O Ártico, por muito tempo visto como uma fronteira remota e intocada, transformou-se em um dos tabuleiros mais estratégicos da geopolítica contemporânea. Com o acelerado derretimento do gelo polar, surgem novas rotas marítimas e a possibilidade de acesso a vastos recursos naturais, como petróleo, gás natural e minerais raros — o que atrai a atenção de grandes potências como China, Rússia, Estados Unidos e países da Europa.
A Noruega, por exemplo, passou a vivenciar diretamente o interesse internacional. O recém-eleito prefeito da cidade de Kirkenes, Magnus Mæland, recebeu múltiplas visitas de delegações chinesas interessadas em projetos de infraestrutura. A China, que se autodenomina um “Estado quase ártico”, aposta na criação de uma “Rota da Seda Polar”, ligando a Ásia à Europa por meio de novas rotas marítimas formadas pelo recuo do gelo.
Contudo, esse avanço chinês tem encontrado resistência. Governos locais, como o da Noruega e da Suécia, passaram a vetar compras de portos e aeroportos por empresas estrangeiras, alegando preocupações com segurança nacional. Ao mesmo tempo, a parceria entre China e Rússia se intensifica, com investimentos em infraestrutura e até exercícios militares conjuntos na região.
O interesse crescente também reacendeu a importância estratégica da região para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A Noruega, fronteiriça com a Rússia, intensificou sua vigilância militar, principalmente após a invasão russa à Ucrânia. Espionagem, sabotagens submarinas e interferência em sistemas de GPS tornaram-se ameaças constantes.
Além dos interesses militares e econômicos, o avanço sobre o Ártico impacta diretamente as comunidades indígenas. Povos tradicionais, como os inuítes da Groenlândia, denunciam a exploração disfarçada de desenvolvimento sustentável e acusam as potências de promover um "colonialismo verde", colocando em risco seus territórios e modos de vida.
Diante de tantos interesses em conflito, o Ártico deixa de ser símbolo de cooperação internacional e passa a ser palco de disputas cada vez mais tensas — um reflexo das transformações do mundo multipolar que emergem com o aquecimento global.
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