Apesar de integrarem a diversidade dos povos tradicionais do Brasil, os ciganos — ou povo romani — continuam à margem das políticas públicas e da visibilidade estatal. Com uma população estimada entre 800 mil e 1 milhão de pessoas, segundo o IBGE, os ciganos ainda enfrentam preconceito, exclusão e falta de acesso a direitos básicos como saúde, moradia e educação.
As principais etnias presentes no país são os calon, rom e sinti. Muitos membros da comunidade relatam que o nomadismo, frequentemente associado ao estilo de vida cigano, foi, na verdade, uma imposição histórica. Proibições de permanência prolongada em um mesmo local, repressão a costumes e ofícios tradicionais e perseguições marcam a trajetória desse povo desde os tempos coloniais.
O Dia Nacional do Cigano, celebrado em 24 de maio, foi instituído em 2006 como um marco para reconhecer a importância dessa população e sua contribuição cultural. No entanto, lideranças apontam que a celebração simbólica precisa ser acompanhada por ações concretas. Uma das principais reivindicações atuais é a inclusão efetiva no Censo Demográfico, o que possibilitaria a formulação de políticas públicas específicas.
Segundo Wanderley da Rocha, presidente da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec), o preconceito estrutural continua sendo um dos maiores entraves. "Sentimos fome, sede, dor, alegria como qualquer outro cidadão. O que pedimos é igualdade de tratamento", afirma.
A falta de dados oficiais também dificulta a implementação de programas de assistência. Para Cláudio Iovanovitchi, da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), não se trata de criar benefícios exclusivos, mas de garantir o acesso aos direitos já existentes. “Queremos escolas com professores preparados, respeito à nossa cultura e oportunidades reais.”
Em resposta a essa demanda, o governo federal instituiu em 2024 o Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos. O documento estabelece metas até 2027 em áreas como saúde, educação, território, combate ao racismo e valorização da cultura. O Brasil se tornou, com isso, o segundo país no mundo a oficializar uma política nacional voltada ao povo romani.
Entretanto, o Projeto de Lei nº 1.387/22, que propõe o Estatuto dos Povos Ciganos, ainda está parado na Câmara dos Deputados. Para as lideranças, sua aprovação seria fundamental para obrigar o Estado a cumprir sua função de garantir dignidade e cidadania a esse grupo historicamente marginalizado.
A luta dos povos ciganos no Brasil é antiga, mas o reconhecimento oficial e o respeito à sua identidade ainda são conquistas em andamento.
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