Ao prometer, durante a campanha presidencial, que encerraria a guerra entre Rússia e Ucrânia em 24 horas, Donald Trump tentou se apresentar como um negociador imbatível. No entanto, quase três meses após reassumir a presidência dos Estados Unidos, o conflito continua com intensidade. E, segundo especialistas, o presidente russo Vladimir Putin tem tirado proveito dessa situação.
Desde fevereiro, a guerra completou três anos, e as tentativas de cessar-fogo não têm surtido efeito. Apesar das conversas entre representantes dos EUA, Ucrânia e Rússia, ataques seguem acontecendo, inclusive em áreas residenciais, como o bombardeio russo que matou 34 pessoas em Sumy no dia 13 de abril.
Trump ainda insiste que é possível negociar um acordo de paz. De fato, os Estados Unidos chegaram a propor uma trégua temporária, aceita inicialmente por Kiev. Mas Moscou apresentou novas exigências, como o reconhecimento da anexação de territórios ocupados e a saída do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky — condições que a Ucrânia rejeita categoricamente.
As declarações do próprio Trump têm oscilado. Depois de afirmar que encerraria o conflito em um dia, passou a dizer que foi "um pouco sarcástico". Agora, com a pressão aumentando, o tom mudou: ameaçou abandonar os esforços de mediação se não houver avanços concretos.
Vladimir Putin, por sua vez, parece ter adotado uma estratégia de charme e manipulação para ganhar tempo e enfraquecer a oposição internacional. Ele tem alimentado a vaidade de Trump com elogios públicos e promessas vagas, enquanto continua reforçando sua posição militar.
Segundo o analista internacional Uriã Fancelli, Putin sabe explorar o perfil do presidente americano. “Ele apresenta a ilusão de que Trump será o grande pacificador, quando na verdade usa a negociação como instrumento para prolongar o conflito”, afirma.
Putin também se aproveita da falta de alinhamento entre os países ocidentais. Com a aproximação entre Trump e o Kremlin, a Rússia tenta quebrar a coesão da aliança transatlântica e testar os limites de apoio à Ucrânia.
O contraste no tratamento dado por Trump aos dois presidentes envolvidos na guerra chama a atenção. Enquanto elogia Putin como um “líder forte” e “confiável”, tem atacado Zelensky com termos como “ditador” e “ingrato”. Em uma ocasião recente, os dois chegaram a discutir publicamente durante um encontro na Casa Branca.
O desgaste da relação entre Washington e Kiev se agravou com a tentativa de Trump de condicionar a ajuda militar à liberação da exploração de minérios ucranianos, sobretudo terras raras. Para o presidente americano, esse seria um modo de “compensar” os investimentos já feitos pelos EUA no país.
A Ucrânia continua resistindo, mas enfrenta dificuldades. Por um lado, sofre com os bombardeios russos, que têm deixado centenas de mortos. Por outro, vê seu maior aliado histórico, os Estados Unidos, adotando uma postura ambígua.
Além disso, a exigência russa de mudanças constitucionais e políticas em Kiev — como a proibição de entrada na Otan e na União Europeia — torna as negociações praticamente inviáveis. De acordo com o cientista político Maurício Santoro, o que está em jogo é a própria existência da Ucrânia como nação independente.
“A Rússia não quer apenas a cessão de territórios. Quer influenciar diretamente o futuro político da Ucrânia. E isso é inaceitável para qualquer país soberano”, analisa.
Enquanto isso, as negociações seguem travadas. Para Fancelli, elas servem mais como cortina de fumaça do que como caminho real para a paz. Ele acredita que a Rússia está usando a diplomacia como uma tática para ganhar tempo, enquanto mantém a pressão militar sobre a Ucrânia.
“A cada conversa sem avanço, a Rússia consolida ganhos no campo de batalha e testa até onde os EUA e a Europa estão dispostos a ir para defender a Ucrânia”, resume.
No fim das contas, a guerra segue, e a tão prometida solução rápida parece cada vez mais distante. E, por enquanto, Putin continua ditando o ritmo do jogo — com Trump assistindo, na esperança de ainda aparecer como o grande responsável por um eventual cessar-fogo.
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