O interior da Bahia enfrenta uma grave crise de acesso aos serviços bancários. Em pelo menos 36 cidades, moradores estão sendo obrigados a viajar para municípios vizinhos apenas para sacar dinheiro, pagar contas ou resolver pendências financeiras. Isso porque agências e postos de atendimento do Bradesco foram fechados entre outubro de 2023 e março de 2024, deixando localidades inteiras sem qualquer instituição financeira física.
Em Olindina, município com pouco mais de 22 mil habitantes no nordeste baiano, a única agência bancária prestes a encerrar suas atividades é do Bradesco. Antes, a cidade contava com duas agências e uma lotérica. Agora, restará apenas esta última, que já demonstra sinais de sobrecarga. A alternativa mais próxima está em Itapicuru, a 19 quilômetros de distância — um desafio para quem vive em áreas rurais, depende do transporte público ou tem mobilidade reduzida.
Saúde financeira comprometida
Welinton Pinheiro, que retornou à cidade natal recentemente, relata a dificuldade que enfrentou para sacar dinheiro: “Me indicaram um ponto de saque informal, em que o comerciante só autoriza o saque quando entra dinheiro no caixa. Ou seja, se você quer sacar R$ 1.000 e só há R$ 500 disponíveis, tem que esperar alguém pagar uma conta para completar o valor.”
Além da precariedade dos serviços, o fechamento das agências impacta diretamente a saúde financeira dos moradores e o desenvolvimento local. Comerciantes, aposentados, agricultores e pequenos empresários sofrem para movimentar recursos ou até mesmo acessar benefícios sociais e salários.
Aposentados são os mais prejudicados
Segundo o Sindicato dos Bancários da Bahia, o grupo mais afetado é o de pessoas idosas, que, em grande parte, não têm familiaridade com os meios digitais e vivem em regiões com baixa cobertura de internet. Em Olindina, por exemplo, cerca de 21% da população tem mais de 55 anos. A situação se repete em outros municípios, como Rodelas, Palmeiras e Ipecaetá — cidades que já não contam com nenhuma agência bancária.
Para Ronaldo Ornelas, diretor do sindicato, os fechamentos seguem uma lógica puramente financeira: “Os bancos alegam que os serviços digitais são suficientes, mas ignoram o impacto social. Fechar a única agência de uma cidade é um claro sinal de abandono institucional.”
Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) indicam que, em 2023, sete a cada dez transações bancárias no Brasil foram feitas por celular. O Pix, por exemplo, lidera como meio de pagamento mais usado no país. No entanto, essa modernização esbarra em uma realidade desigual: boa parte das pequenas cidades baianas ainda carece de estrutura tecnológica e conectividade.
Reações e medidas em discussão
Diante do cenário, o Procon-BA e o Sindicato dos Bancários realizaram reuniões para discutir ações que possam barrar o avanço desses fechamentos. Em outros estados, como o Maranhão, decisões judiciais já suspenderam o encerramento de agências. Na Bahia, uma das possibilidades em análise é acionar o Ministério Público para garantir o acesso essencial aos serviços bancários.
Enquanto isso, a população segue desassistida, lidando com longas viagens, pontos de saque improvisados e o risco constante de exclusão financeira. “São pais, avós, lavradores que recebem pouco e agora precisam lutar para ter acesso ao próprio dinheiro”, lamenta Welinton.
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