Apesar do ciclo prolongado de juros elevados no Brasil, o mercado de trabalho continua aquecido. Dados divulgados nesta quinta-feira (31) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, revelam que a taxa de desocupação no país caiu para 5,8% no segundo trimestre de 2025 — o menor índice desde o início da série histórica, em 2012. Especialistas consideram o resultado uma surpresa positiva diante do cenário de política monetária contracionista.
Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) mantida em 15% ao ano pelo Banco Central, o número de pessoas ocupadas no país atingiu um novo recorde: 102,3 milhões. Também cresceu o total de trabalhadores com carteira assinada, que chegou a 39 milhões, além do rendimento médio, que subiu para R$ 3.477 mensais.
Segundo o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec, o desempenho do mercado de trabalho surpreendeu por ocorrer em um ambiente de juros elevados, que normalmente freiam o crescimento. “Houve aumento da contratação formal, redução da informalidade e elevação da remuneração. Isso mostra um mercado com vigor acima do esperado”, afirmou.
Economistas apontam que a resiliência do nível de emprego está relacionada a fatores como o fortalecimento do consumo das famílias. Sandro Sacchet, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca o impacto da manutenção do Bolsa Família em R$ 600 como uma das principais explicações para a resistência do mercado de trabalho aos efeitos da Selic.
“A elevação dos juros afeta menos o consumo imediato das famílias, especialmente das camadas de renda mais baixa, que mantêm o giro da economia em setores de serviços e comércio”, explica Sacchet.
Além disso, o crescimento do trabalho por conta própria também contribui para esse cenário. Segundo a Pnad, o Brasil tem atualmente 25,7 milhões de trabalhadores nessa condição — entre 75% e 80% deles sem CNPJ, ou seja, na informalidade. Para Adriana Beringuy, coordenadora do levantamento no IBGE, essa estrutura torna o emprego mais sensível ao consumo doméstico do que aos investimentos de empresas.
Apesar do momento positivo, analistas alertam que o ritmo atual pode não se sustentar. Para Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o mercado de trabalho pode desacelerar nos próximos meses, à medida que os efeitos da política monetária se consolidarem. “Já observamos sinais de moderação na atividade econômica. É possível que o crescimento do emprego perca força no segundo semestre e em 2026”, prevê.
Ainda assim, Tobler não espera uma deterioração acentuada. “O mais provável é uma estabilidade em patamar elevado, com o desemprego oscilando pouco”, complementa.
Sacchet também projeta uma leve alta na taxa de desemprego nos próximos meses, com tendência de recuo no final do ano, impulsionado pelas contratações sazonais do Natal.
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