Um levantamento da Rede de Observatórios de Segurança identificou 41.203 crimes ambientais registrados entre 2023 e 2024 em nove estados do Brasil. Os dados, enviados por secretarias de segurança pública do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo, expõem a dimensão da violência ambiental no país, mas ainda estão longe de retratar a totalidade do problema.
Os pesquisadores alertam para as limitações da base de dados, que não contabiliza violências sofridas por populações tradicionais — como indígenas, quilombolas e ribeirinhos — nem inclui conflitos fundiários ou impactos socioambientais de obras legais, como hidrelétricas e mineração autorizada.
De acordo com a cientista social Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios, o país precisa de estatísticas mais completas e rigorosas sobre a vitimização desses grupos. “Não é aceitável que, diante de tamanha destruição ambiental, ainda não existam registros oficiais consistentes sobre os danos causados às comunidades tradicionais”, afirmou.
O levantamento também mostra que o envio de dados varia de estado para estado. Enquanto Pará, Pernambuco e Piauí apresentaram informações mais detalhadas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo não disponibilizaram dados sobre povos tradicionais. O Ceará enviou apenas números totais, sem especificação por tipo de crime.
Entre os crimes ambientais, os pesquisadores classificaram cinco categorias: contra a fauna, contra a flora, poluição, exploração mineral e outros. A Bahia se destacou por registrar 87,22% dos crimes ambientais contra a flora. O Piauí liderou os crimes contra a fauna, com 67,89%. Já o Maranhão teve o maior percentual de poluição: 27,66%.
São Paulo, além de apresentar o maior número absoluto de crimes (17.501), registrou um aumento alarmante de 246,03% nos casos de incêndio em mata ou floresta em 2024. No Pará, os incêndios em áreas rurais e vegetação subiram 127,54% no mesmo período.
Com base nos resultados, a Rede de Observatórios propõe medidas urgentes. Entre elas, a padronização nacional dos registros, com a inclusão de vítimas pertencentes a povos tradicionais, mesmo em crimes tipificados como ambientais. Outra proposta é a criação de órgãos especializados no atendimento a esses grupos, reconhecendo suas especificidades e vulnerabilidades.
Para Silvia Ramos, o desafio vai além da produção de dados. É preciso transformar a forma como o Estado enxerga os conflitos socioambientais. “Assim como a violência de gênero passou a ser reconhecida e combatida com políticas públicas e cobertura midiática mais justa, é necessário promover uma mudança profunda na abordagem das questões ambientais e sociais que afetam essas populações”, conclui.
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