A Bahia, em especial a região do Raso da Catarina, está enfrentando um aumento significativo nas temperaturas, com registros de calor extremo e anomalias climáticas que chegam a até cinco graus acima da média. O cenário tem preocupado especialistas, que apontam os impactos do excesso de calor, com consequências para a saúde, a agricultura e o meio ambiente.
De acordo com o estudo realizado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), entre o final de março e início de abril de 2025, o termômetro ultrapassou os 37ºC na área do Raso da Catarina, enquanto, no mesmo período de 2024, as temperaturas estavam em torno dos 34ºC, com a média histórica em 33ºC. O fenômeno tem sido observado em várias partes do estado, com temperaturas na casa dos 34ºC, bem acima da média de 32ºC.
“O calor excessivo tem sido uma constante no Nordeste brasileiro e, especialmente, no centro-norte da Bahia. A cada ano, as temperaturas aumentam, e a tendência é de agravamento”, afirma Humberto Barbosa, professor da Ufal e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), que vem monitorando o clima da região desde dezembro de 2024.
Esse aumento de temperaturas não é um fenômeno isolado. Em fevereiro, a Bahia foi o sexto estado com o maior número de dias consecutivos de calor extremo, ficando atrás apenas de Alagoas, que liderou o ranking com 59 dias de calor intenso. A pesquisa revelou que 60% da população brasileira foi afetada pelo calor excessivo, uma situação que está se tornando cada vez mais frequente no Nordeste.
A situação é ainda mais preocupante devido à falta de chuvas. Desde fevereiro, uma massa de ar seco tem dominado grande parte da região, impedindo a formação de chuvas e impactando diretamente a qualidade de vida das comunidades locais. Especialistas preveem um mês de abril com chuvas abaixo da média, tanto no interior quanto no litoral leste da Bahia.
A situação de seca também está se agravando. O termo “seca-relâmpago”, utilizado pela primeira vez no Brasil entre 2023 e 2024, está se tornando mais comum na Bahia. Essa seca temporária, que dura entre 15 e 20 dias, reduz a umidade do solo a níveis críticos e serve como um sinal de alerta para futuras estiagens mais severas, como a que ocorreu entre 2012 e 2017, considerada a mais longa da história do estado.
Estudos indicam que o semiárido da Bahia tem se expandido, com 55% do agreste transformado em área semiárida, o que resulta em estiagens de até seis meses. Além disso, 8% do semiárido, representando 282 mil km², passou a ter características áridas, com períodos de seca de até 10 meses. De acordo com Humberto Barbosa, a situação é fruto de mudanças climáticas e também da degradação ambiental, com a vegetação da Caatinga sendo constantemente afetada pelo desmatamento.
A solução para esse cenário é complexa, como explica o professor. “Uma das opções seria cercar as áreas degradadas e deixar que a natureza se recupere, mas isso exigiria décadas e tempo não temos. Outra alternativa seria levar água para essas regiões, mas sabemos que é um recurso escasso e os municípios não têm condições financeiras para implementar essas ações”, afirmou.
O professor também ressaltou a dificuldade enfrentada pelos municípios para acessar recursos e informações que possam ajudar a mitigar os efeitos do clima extremo. "As prefeituras dessas regiões enfrentam uma série de obstáculos, como a falta de profissionais e acesso a dados, o que dificulta a elaboração de relatórios para solicitar recursos e decretar estado de emergência", concluiu.
Com o agravamento da crise climática, a necessidade de ações urgentes e coordenadas para enfrentar o calor extremo e a seca é cada vez mais evidente. O monitoramento contínuo das condições climáticas e a mobilização de políticas públicas mais eficazes são essenciais para garantir a adaptação da população baiana a esse novo cenário.
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