Nos últimos três anos, a ascensão de policiais militares como influenciadores digitais tem sido notável, com milhares de seguidores conquistados por meio de suas atuações nas redes sociais. Contudo, essa popularidade trouxe consigo uma série de desafios para a corporação, especialmente em relação à imagem da Polícia Militar. Desde 2023, pelo menos 57 PMs têm sido investigados e processados administrativamente por ações nas plataformas digitais que foram consideradas incompatíveis com os padrões da instituição.
O fenômeno dos "PMs influenciadores" ganhou força com a diversificação das redes sociais, que passaram a exercer uma grande influência sobre a opinião pública e comportamentos sociais. Para a Polícia Militar da Bahia, esse comportamento tem gerado uma série de preocupações, uma vez que as redes sociais não apenas ampliam o alcance desses profissionais, mas também expõem a corporação a riscos.
De acordo com dados da Corregedoria Geral da Polícia Militar, em 2023, 27 policiais foram investigados por postagens e comportamentos nas redes, número que subiu para 28 em 2024. A crescente presença de PMs nas plataformas sociais tem levado a instituição a adotar uma portaria interna desde 2022, que regulamenta o uso das redes sociais pelos seus membros.
Entre os casos mais destacados está o de Lázaro Alexandre Pereira de Andrade, o "Tchaca", soldado e criador de um popular canal de YouTube e podcast. Tchaca, que acumula seguidores no YouTube e Instagram, foi preso em 2023 por realizar propaganda política durante sua candidatura a vereador em Salvador, algo proibido para policiais da ativa. Sua prisão gerou debates sobre os limites da liberdade de expressão e o impacto da exposição pública nas redes sociais para profissionais da segurança pública.
Outro caso relevante envolveu o soldado Diego Correia, que teve sua prisão administrativa decretada após fazer declarações agressivas em um podcast, dizendo que a lei não importaria caso sua família fosse ameaçada. Embora a Corregedoria tenha considerado o caso arquivado, o comando da PM determinou sua detenção. Correia, que atualmente conta com mais de 1,3 milhões de seguidores no Instagram, gerou repercussão pela controvérsia envolvendo sua conduta.
Além desses, outros policiais também enfrentaram processos administrativos por ações que envolviam desde comportamentos inadequados em entrevistas até a promoção de produtos comerciais nas redes sociais. A soldado Flora Machado, por exemplo, foi acusada de realizar publicações comerciais, incluindo promoções de biquínis e jogos de azar, usando seu uniforme, o que foi visto como uma associação indevida da imagem da PM com atividades comerciais.
Para especialistas como David Marques, doutor em sociologia e coordenador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a situação reflete a necessidade de atualizar os regulamentos disciplinares da Polícia Militar para lidar com as novas dinâmicas sociais criadas pelas redes sociais. Marques alerta que a espetacularização do trabalho policial pode trazer sérios riscos, como a simulação de operações ou o incentivo à violência, comprometendo tanto a imagem da corporação quanto a segurança pública.
Em meio a essas discussões, fica claro que, para os policiais militares, a linha entre a liberdade de expressão e o respeito à imagem institucional continua a ser um tema delicado e em constante evolução.
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