A inércia de Jerônimo diante da seca, o revés de Rosemberg e as críticas veladas ao presidente Lula

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, não poupou nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao abordar dois dos desafios mais críticos de sua gestão: o aumento da violência e a queda em sua popularidade. Ao tratar da segurança pública, afirmou que “é essencial uma ação coordenada com o governo federal”, repassando parte da responsabilidade ao presidente, que historicamente delega a questão aos estados. Quanto à sua crescente rejeição, disse que “a avaliação de Lula caiu e isso nos impacta diretamente”. Um deputado comentou ironicamente: “Lula deve ter pensado: até tu, Brutus?”.

O desgaste de Rosemberg

A candidatura do deputado Júnior Muniz (PT) para a primeira vice-presidência da Assembleia Legislativa da Bahia gerou uma crise na base governista e expôs a fragilidade do líder da maioria, Rosemberg Pinto (PT). Adversário declarado de Muniz, Rosemberg tentou emplacar Fátima Nunes para o cargo, mas ela não possuía apoio suficiente. A iminente derrota levou o líder governista a manobrar para adiar a votação. O episódio revelou a falta de prestígio de Rosemberg e a omissão do governo estadual, que não se esforçou para barrar a candidatura de Muniz. A disputa também destacou divisões dentro do PT, já que Muniz é ligado ao prefeito de Camaçari, Luiz Caetano (PT), impondo uma derrota significativa a Rosemberg.

Um governo lento diante da seca

A crise da seca que assola a Bahia há meses só começou a receber atenção do governo estadual nesta semana. Desde janeiro, deputados, prefeitos e lideranças alertam para o agravamento da situação, especialmente na região de Irecê, onde safras foram perdidas e pecuaristas precisaram vender animais para evitar mortes por falta d'água. Somente após pressões públicas, o governo promoveu uma reunião do Comitê Governamental de Convivência com o Semiárido, evidenciando a falta de planejamento para enfrentar o problema.

A polêmica das invasões de terra

No Extremo Sul do estado, a questão das invasões de terra também tem gerado apreensão. Segundo deputados, a orientação do governo é que todas as ordens de reintegração de posse passem pelo Palácio de Ondina ou por secretarias estratégicas antes de serem cumpridas pela polícia. Das aproximadamente 80 propriedades invadidas, cerca de 40 têm decisão judicial favorável não executada, o que sugere interferência política na aplicação da lei.

Prioridades questionáveis

Enquanto essas crises se arrastam, Jerônimo Rodrigues encontrou tempo para criticar o prefeito de Salvador, Bruno Reis, e o ex-prefeito ACM Neto, além de participar de reuniões políticas e gravações de podcasts. Essa postura tem gerado insatisfação dentro de sua base, com aliados comparando sua estratégia à do ex-governador Rui Costa, que esperava apoio espontâneo, enquanto Jerônimo busca ativamente alianças.

Falta de autonomia e queda na popularidade

A dificuldade de Jerônimo para nomear um novo secretário de Comunicação também expõe sua falta de autonomia. A disputa entre os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa paralisa nomeações, já tendo levado à retirada de dois nomes cotados para o cargo. A recente pesquisa do Instituto Paraná revelou que sua desaprovação supera a aprovação, aumentando a preocupação no governo estadual. A oposição, por sua vez, reforça a narrativa de que Jerônimo é o pior governador da história da Bahia.

Autopromoção na TVE

Por fim, Jerônimo aproveitou a transmissão da final do Campeonato Baiano na TVE, emissora pública do estado, para promover sua imagem. O episódio lembra práticas criticadas do ex-presidente Jair Bolsonaro na TV Brasil, que geraram ações no STF por uso indevido da máquina pública. No caso de Jerônimo, no entanto, não houve qualquer manifestação crítica por parte de seus aliados.