Mais de dois mil e quinhentos inquéritos policiais remetidos. Quase 13 mil pedidos de medida protetiva de urgência. Cinquenta casos de feminicídio na Bahia entre janeiro e julho deste ano. Os números, divulgados pelo Tribunal de Justiça da Bahia e pela Polícia Civil, são altos e assustam.
Neste Agosto Lilás, mês dedicado ao Combate à Violência contra Mulher, o Instituto Avon traz uma pesquisa em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que aponta que a Bahia é o terceiro estado do Brasil com o maior número de ocorrências em dias de jogos de futebol, pelo Campeonato Brasileiro. Além disso, a matéria aborda ações de Bahia e Vitória, e também traz relato de vítimas.
Por que a maior paixão nacional ainda dá tanto espaço para esse tipo de comportamento?
Em entrevista exclusiva, a promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia e coordenadora do Núcleo do Júri (NUJ), Mirella Brito, fala do motivo de o futebol ainda estar tão atrelado à violência de gênero.
- O futebol traz diariamente para a nossa sociedade a participação apenas de uma parcela viril, de uma parcela de homens da sociedade, que está ali para se entreter naquele momento e para catalisar, dentro desse aspecto, suas próprias frustrações e anseios enquanto parcela.
"Como se só eles acompanhassem o time, como se só eles tivessem esse amor pelo esporte", questiona Mirella Brito.
- E, então, qualquer coisa que saia daquele aspecto esperado, inclusive resultados, gera a necessidade de observância externa - diz a promotora
A Bahia é o terceiro estado com maior número de casos de violência contra a mulher em dias de jogos do Brasileirão. O levantamento foi realizado quando há partidas da primeira divisão do Campeonato, entre os anos de 2015 e 2018, em cinco capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Números de casos de violência contra a mulher:
De acordo com o levantamento, de maneira significativa, os agressores são companheiros ou ex-companheiros das vítimas.
Disque denúncia
A denúncia (Disque 180) é uma ferramenta importante para o combate a violência contra a mulher. Neste ano, 12.519 medidas protetivas de urgência foram emitidas. Uma dessas denúncias foi feita pela personagem principal desta matéria, a quem vamos chamar de Suzana, um nome fictício para não identificar a vítima.
"Quando tinha jogo, ele ficava me chutando. Eu sou Bahia e ele era Vitória. E o que acontece? Quando o time dele perdia, ele queria quebras as coisas dentro de casa e me agredir" conta Suzana
Outra vítima é Mariana (nome fictício). Torcedora do Bahia, ela foi casada por dez anos com seu agressor, também tricolor. No ano passado, o time baiano foi até a última partida do Campeonato Brasileiro com risco de rebaixamento. E durante as últimas cinco rodadas do Brasileirão, ela viveu em cárcere de privado.
"Ele dizia que só ia me tirar dali quando o Bahia vencesse", diz Mariana.
- Eu achei que fosse morrer. Sempre que o Bahia empatava ou perdia, ele criava um novo hematoma no meu corpo. Passei por coisas que até hoje não consigo entender, e também não sei como aguentei até tanto tempo. Agradeço a Deus por terem me achado, por terem me salvado. Eu nasci de novo - conta
Ações de Bahia e Vitória com os jogadores para o combate à violência contra mulher no futebol
Essas são apenas duas das milhares de histórias de mulheres que são agredidas diariamente no Brasil. E com o objetivo de combater a violência contra a mulher, Bahia e Vitória fazem ações internas com seus jogadores para conscientização.
Bahia
As ações sociais seguem fazendo parte da rotina do Bahia. No início de agosto, o clube promoveu uma palestra para os jogadores da divisão de base do Tricolor sobre assédio e violência sexual.
Além disso, durante todo o mês de agosto, a bandeirinha de escanteio do campo da Arena Fonte Nova estará da cor roxa, com a seguinte frase: "#levanteessabandeira".
Vitória
O Vitória também promove ações sociais. O setor de psicologia tem feito algumas palestras pontuais, educativas, mas de forma interna e institucional.
Como denunciar violência contra mulher
Ainda segundo o levantamento abordado na reportagem, mais mulheres estão denunciando casos de ameaça e lesão corporal. O perfil das denúncias é um público mais jovem, de 18 a 29 anos.
E se você passa por essa situação ou conhece alguém que vive essa violência, denuncie. Disque 180, como indica a Tenente Coronel Roseli Santana.
- A mulher pode procurar ajuda em caso de emergência ligando para o 190, que é a polícia militar e em caso de denúncia, 180 que é o número nacional. Mas ele também pode obter ajuda pela Casa da Mulher Brasileira, recém inaugurada, pelas Deams espalhadas na capital e também pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública e pela Polícia Militar - informa Tenente Coronel Roselli Santana.
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