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4 mudanças que dificultam combate de gangues e facções na América Latina


Publicada em 04/03/2024 ás 10:20:29
GETTY IMAGES
A desmobilização das FARC começou em 2016

A América Latina está passando por uma forte transformação na forma como gangues do crime organizado operam na região.

Isto tem sido observado por várias organizações internacionais e por especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

A atual composição dos grupos criminosos, o tipo de negócio com que lidam, a amplitude do território que atingem e o anonimato de muitos dos seus líderes são alguns dos fatores por trás dessa transformação.

Esses mudanças aumentam a complexidade do combate às organizações criminosas por parte das autoridades. Muitos países, na verdade, continuam a aplicar soluções do passado, segundo especialistas.

Farah e outros especialistas destacam certos episódios que levaram a esta transformação.

Entre eles, está a desmobilização das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em 2016, o que fez proliferar novos atores que passaram a controlar regiões produtoras de coca no país.

Também houve a pandemia de covid-19, que, segundo Lucía Dammert, professora da Universidade de Santiago do Chile e especialista em criminologia, fez inundar "a América Latina com cocaína de baixo valor porque era mais complexo exportá-la".

1. Fragmentação da estrutura criminal

Para os especialistas entrevistados pela BBC News Mundo, uma das peculiaridades do crime organizado que atinge hoje a América Latina é que ele é formado por uma infinidade de grupos que atuam em alianças enraizadas em diversos países.

Esta fragmentação não era tão comum há cerca de dez anos.

O fenômeno foi destacado pelas Nações Unidas no seu Relatório Mundial sobre a Cocaína 2023, onde se afirma que existe hoje uma "miríade de redes de tráfico".

Referindo-se especificamente à Colômbia, o relatório diz que "como resultado da fragmentação do cenário do crime após a desmobilização das Farc em 2016, há o envolvimento agora de grupos criminosos de todos os tipos, tamanhos, estruturas e objetivos."

2. Diversificação dos negócios

É preciso considerar também outra característica dos grupos do crime organizado na região: a enorme diversidade de seus negócios ilegais.

Segundo os analistas, o fato de existir um panorama mais fragmentado significa também que o tipo de negócio que esse grupos desenvolvem é mais amplo.

"Antes, as estruturas criminosas eram especializadas em uma área do negócio criminoso. Mas, com o tempo e a globalização, elas perceberam que a diversificação dos seus serviços é uma oportunidade que não podem desperdiçar", explica Pablo Zeballos, ex-oficial de inteligência chileno e consultor internacional sobre crime organizado.

O tráfico de seres humanos e de armas, a prostituição, a expansão das drogas sintéticas, a falsificação de medicamentos, os assassinatos de aluguel e a mineração ilegal — que em países como o Peru ou a Colômbia geram lucros iguais ou superiores aos do tráfico de drogas — são alguns dos negócios para os quais diversas organizações criminosas estão caminhando, segundo citaram os entrevistados.

Jeremy McDermott observa que isto é significativo especialmente para grupos que têm "controle territorial".

"É preciso controle territorial para diversificar a carteira criminosa", esclarece.

Ele acrescenta que todas estas novidades — a diversificação dos negócios e o surgimento de diversos atores — ocorrem num contexto de fragilidade dos sistemas judiciais e de segurança.

3. Anonimato dos líderes

A nova geração de traficantes de drogas pouco ou nada tem a ver com o estereótipo que Pablo Escobar encarnava como ninguém.

E esta é outra característica do crime organizado de hoje.

Longe estão as excentricidades do principal líder do cartel de Medellín, que gostava de exibir a sua enorme fortuna.

Com sua postura sanguinária, Escobar fez questão de que todos o conhecessem, tornando-se o homem mais procurado entre o final dos anos 80 e início dos 90.

Os novos líderes dos grupos criminosos latino-americanos parecem ter aprendido a lição e hoje preferem se manter discretos.

Jeremy McDermott usou o termo "Os Invisíveis" para se referir a esses líderes em seu artigo intitulado "A nova geração de traficantes de drogas colombianos pós-FARC: 'Os Invisíveis'".

"A nova geração de traficantes aprendeu que o anonimato é a melhor proteção", diz o texto.

4. O fim das 'ilhas de paz'

Nos últimos anos, vários países latino-americanos que costumavam ser relativamente livres do crime organizado estão vivendo um aumento da insegurança, da violência e da criminalidade.

"Praticamente não existem mais as chamadas 'ilhas de paz" porque os mercados ilegais estão presentes em quase todos os países”, afirma Lucía Dammert.

O Equador é talvez o exemplo mais óbvio. Em poucos anos, o país deixou de ser um local de trânsito de drogas para se tornar um centro de distribuição, armazenamento e processamento.

Isto provocou uma violência sem precedentes: em 2023, o país bateu o seu recorde histórico de homicídios com 7.878 mortes, o que reflete um aumento drástico se compararmos com os números de 2019, quando houve 1.187 homicídios.

Outros países como o Chile, a Costa Rica ou o Uruguai também registraram um aumento da insegurança, embora não no nível do Equador.

"É preciso esclarecer que estes países sempre tiveram criminalidade local. Mas o que observamos agora é que as suas realidades nacionais estão sendo alteradas pela entrada de organizações internacionais, pela mutação das suas próprias gangues locais e pelo controle de certos territórios ou portos", explica Zeballos.

Segundo especialistas, isso ocorre principalmente pela busca por locais mais seguros por onde possam transitar mercadorias ilegais.

"Eles estão em busca de novas rotas porque agora a Colômbia ou o Porto de Santos, no Brasil, estão tão conhecidos que qualquer carga tem maior risco de apreensão", diz Jeremy McDermott.

A expansão dessas gangues também foi impulsionada pela crise migratória que vive a região, alerta Pablo Zeballos.

Falando particularmente do Tren de Aragua, ele aponta que "como resultado da diáspora venezuelana, que inclui criminosos, gerou-se uma presença mais ampla em diferentes países".

Os países que estão vivendo esse novo cenário não estão preparados para lidar com estes grupos do crime organizado, alerta Douglas Farah.

 

Por Diário da Feira via BBC
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