Publicada em 18/08/2023 ás 12:49:42
A líder quilombola e coordenadora nacional de Articulação
de Quilombos, Bernadete Pacífico, assassinada na noite de quinta-feira (17),
estava sob proteção da Polícia Militar, por meio da Secretaria de Justiça e
Direitos Humanos da Bahia (SJDH) há pelo menos dois anos.
Nesta sexta-feira (18), questionou-se à SJDH como era feita
a proteção da quilombola, que também era ialorixá, mas ainda não obteve
resposta. Em contrapartida, o advogado da família, David Mendez, disse que a
Polícia Militar fazia uma "ronda simbólica" no local onde ela morava.
"Ela entrou no programa há dois anos. Bernadete
recebia ameaças de várias frentes, que foram intensificadas quando madeireiros
ilegais passaram a ameaçá-la. Ela sempre deixou claro os riscos que corria e
ficou sob o programa a pedido dela mesma", detalhou o advogado.
"A proteção do estado era só uma ronda simbólica. Uma
viatura da PM ia lá uma vez por dia, geralmente no final da tarde, falava com
ela e ia embora. Que segurança é essa? Questionou David. Há cerca de um mês, a quilombola também tinha relatado a
situação à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. O advogado
relatou ainda que, dias antes de morrer, Bernadete havia falado que as ameaças
feita pelos madeireiros haviam se intensificado.
A extração de madeira na comunidade quilombola onde
Bernadete morava é ilegal, porque se trata de uma Área de Proteção Ambiental
(APA). Por isso, os madeireiros eram denunciados por Bernadete e a ameaçavam.
O quilombo Pitanga dos Palmares, que era liderado por
Bernadete, é responsável por uma associação onde mais de 120 agricultores
produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi,
banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854
hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de
titulação concluído.
"Recentemente ela relatou para a gente, em três
ocasiões, que pessoas passavam pela casa dela à noite dando tiro para cima,
como se fosse uma espécie de recado, de aviso. Fora as comunicações de boca-boca.
Então não era novidade para ninguém".
"O pessoal da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
do governo do estado sempre esteve ciente do risco que dona Bernadete
corria", destacou o advogado.
Apesar de acentuar as denúncias contra os madeireiros,
David complementou dizendo que a líder quilombola lutava contra vários
interesses econômicos, o que pode dificultar a descoberta de quem mandou
executar Bernadete.
"Ela lutava contra vários interesses econômicos, eram
lutas realmente grandiosas. Havia processos milionários envolvendo royalties de
petróleo e gás explorados pela Refinaria Mataripe, concessão de energia
elétrica sem contrapartida para a comunidade, e até uma represa da Embasa
[Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A] que inundou território quilombola e
a comunidade nunca foi indenizada".
Investigação O assassinato da líder quilombola será investigado por uma
força-tarefa, por determinação da delegada-geral da Polícia Civil, Heloisa
Campos de Brito. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia
(SSP-BA), o crime foi cometido por dois homens.
Usando capacetes, os suspeitos entraram no imóvel onde
estava a ialorixá e efetuaram disparos com arma de fogo. Informações
preliminares apontam que Bernadete estava com familiares, que foram isolados em
um cômodo, antes dela ser morta com vários tiros.
A líder quilombola também cobrava justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017, por homens armados também na área do quilombo. Forte atuante nas causas sociais, ela foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, onde fica o terreiro, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016).
Por Diario da Feira via G1
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