O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira que o mundo está diante de uma nova ordem multipolar, em seu discurso de abertura na cúpula do Brics, realizada em Kazan — a reunião diplomática mais importante recebida pelo país desde o início da guerra na Ucrânia, em março de 2022.
— O processo de formação de uma ordem mundial multipolar está em curso, é um processo dinâmico e irreversível — disse Putin, dirigindo-se aos líderes mundiais reunidos na cúpula. — [O Brics está] fortalecendo sua autoridade nas questões internacionais.
A Rússia considera o Brics uma alternativa às organizações lideradas pelas potências ocidentais, como o G7, uma posição respaldada pelo presidente chinês, Xi Jinping, aliado crucial de Moscou. O grupo, criado em 2009 com quatro integrantes (Brasil, Rússia, China e Índia) — e a África do Sul incluída em 2010 —, cresceu no ano passado, com as entradas de Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita também foi convidada, mas ainda não deu seguimento a seu processo de entrada.
Uma nova lista de possíveis novos parceiros — diferentemente dos membros plenos, são uma espécie de observadores qualificados, que participam de reuniões e discussões internas — foi aprovada nesta quarta-feira. Segundo interlocutores da diplomacia brasileira, a lista é formada pelos seguintes países: Turquia, Indonésia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda e Argélia.
Um tema central da reunião, já abordada inicialmente na terça-feira por Putin, em uma conversa com Dilma Rousseff, presidente do Banco do Brics, será a criação de um sistema de pagamentos sem o uso do dólar — privilegiando moedas nacionais —, o que criaria uma via alternativa para Moscou contornar as sanções ocidentais decorrentes da guerra na Ucrânia.
Sobre a situação no front — tema que foi ligeiramente abordado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso de abertura, feito à distância, por videoconferência — o Kremlin afirmou que Putin estava interessado em ouvir propostas de mediação de países do grupo.
— Vários países manifestaram o desejo de contribuir mais ativamente [para a solução do conflito], o que foi recebido favoravelmente pelo presidente russo — declarou o principal porta-voz da Presidência, Dmitri Peskov.
A cidade de Kazan, sede da reunião, está sob rígidas medidas de segurança. A região próxima do Tartaristão, a quase mil quilômetros da fronteira com a Ucrânia, já foi alvo de vários ataques de drones lançados por Kiev.
Ucrânia x ONU
A presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, na reunião de líderes internacionais, foi motivo de polêmica, por tratar-se da primeira visita do líder das Nações Unidas ao país em guerra. O governo de Kiev, particularmente, criticou com ênfase a visita.
"O secretário-geral da ONU rejeitou o convite da Ucrânia para a primeira reunião mundial pela paz na Suíça. Porém, aceitou o convite do criminoso de guerra Putin para visitar Kazan", afirmou o Ministério das Relações Exteriores na rede social X.
O porta-voz de Guterres destacou que a viagem é parte da sua participação regular em "organizações com um grande número de Estados-membros importantes" e que ela permitirá "reafirmar suas posições bem conhecidas" sobre o conflito na Ucrânia "e as condições para uma paz justa"
O Kremlin afirmou que Guterres deve abordar o conflito da Ucrânia com Putin em um encontro na quinta-feira.(Com AFP)
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