A cidade de Feira de Santana é considerada a segunda maior cidade da Bahia e uma das cidades mais importantes do Nordeste brasileiro.
Na prática, é um dos principais entroncamentos rodoviários do país, o que a torna ponto de conexão turístico e de trânsito entre pessoas do litoral ao interior.
Ao longo da história, a Princesa do Sertão cresceu e se modificou.
Mas, alguns pontos remontam a história em meio a modernidade.
Pensando nisso, em homenagem à comemoração dos 191 anos da cidade, convidou-se a arquiteta feirense Manuela Lula Reis, mais conhecida como Mana Lula, para contar a história dos 5 pontos de Feira de Santana que carregam um valor simbólico e arquitetônico para a construção da ‘Princesinha do Sertão’. Confira:
Mercado de Arte Popular
Ocupando um quarteirão inteiro no centro comercial da cidade, com a fachada principal voltada a pouca distância da Prefeitura, o Mercado de Arte Popular (MAP), é constituído como um dos mais importantes pontos turísticos da cidade.
Conforme a história, o espaçoso prédio foi construído a partir de 1915, na gestão do prefeito Bernardino da Silva Bahia. Ele acomodava os vendedores de frutas, verduras, farinha de mandioca, fumo de corda, carnes, etc. Era como uma feira livre, que atraia pessoas de toda a região.
Com a mudança da feira para o Centro de Abastecimento, em 1977, o prédio ficou desativado. No início da década de 1980, após pequenas adaptações, passou a abrigar o atual Mercado de Arte Popular, que tinha o objetivo de comercializar a produção artesanal da região.
A arquiteta relata que na sua percepção, o Mercado de Arte de Feira, antigo Mercado Municipal, é um edifício que fala por si só, pois é um forte espaço de comércio e artesanato local que contempla as principais ruas do centro da cidade, a Sales Barbosa e Marechal Deodoro.
“Ele conta a história de Feira de Santana, cidade que nasceu do comércio, da feira livre, cidade que tem uma ligação muito forte com a rua, destacando a importância dos vendedores ambulantes e dos camelôs para a construção da FEIRA de Santana. E hoje o comércio continua sendo a atividade de maior relevância no município”, diz ela.
Igreja Senhor dos Passos
A igreja Senhor dos Passos está localizada no centro comercial da cidade, na esquina entre as Avenidas Getúlio Vargas e Senhor dos Passos, em frente à prefeitura municipal.
A história do templo começou no século XIX, quando o comendador Felipe Pedreira de Cerqueira obteve a permissão do Arcebispo de São Salvador da Bahia para construir, ao lado de sua residência, um cemitério particular e uma capela para sua família, cujo patrono seria o Senhor dos Passos. O projeto da nova igreja foi aprovado pelo Arcebispo da Bahia, Dom Jerônimo Tomé da Silva, em 6 de junho de 1921.
A Igreja do Senhor dos Passos impressiona assim pela inspiração gótica, pelos vitrais, que representam os doze apóstolos, e pelo revestimento externo, que utiliza argamassa com vidro moído para imitar pedra. Concluída na década de 1970, a igreja ainda passou por várias obras.
Em maio de 2024, a Igreja Senhor dos Passos foi elevada à categoria de Santuário Arquidiocesano, sendo o primeiro santuário católico urbano da cidade.
A arquiteta fala com carinho do ponto turístico. “A arquitetura da Igreja Senhor dos Passos é uma das minhas preferidas, principalmente por ser o único edifício em estilo neogótico na cidade, e ser um estilo pouco comum até mesmo no Brasil. Olhar para ela me faz viajar até a França, onde as Igrejas e catedrais no mesmo estilo são conhecidas mundialmente; ou seja, devemos enxergar o valor da arquitetura da nossa cidade.”, esclarece ela.
Paço Municipal ou Prédio da Prefeitura de Feira de Santana
Por falar em Prefeitura Municipal, o prédio que está situado na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Avenida Senhor dos Passos, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), em 2004. Atualmente abriga vários setores da administração municipal, inclusive o gabinete do prefeito.
O prédio do Paço Municipal é um dos mais bem preservados na cidade de Feira de Santana, mantendo a sua arquitetura em estilo eclético e características em neoclássico, se firmando como um edifício imponente.
A arquitetura Mana Lula destaca a importância que os dois pontos da cidade carregam. “A Igreja Senhor dos Passos e o Paço Municipal (ou prédio da Prefeitura) exercem um impacto visual muito positivo na região, visto que estão localizados um em frente ao outro, em uma área extremamente comercial onde passam milhares de pessoas todos os dias. A existência deles também reflete resistência, como uma indicação do que sobrou de uma história arquitetônica marcante nos séculos XIX e XX da cidade”, completou ela.
Casarão Fróes da Motta
O Casarão Fróes da Motta possui estilo arquitetônico eclético e fatores que tornam o edifício imponente: grandes janelões com ampla visibilidade para via pública, porão alto, varanda, dez painéis com pinturas do artista Henrique do Amaral e colunas em estilo neoclássico.
Uma das características da construção do Casarão foi a intenção do coronel Bernardino Bahia e Agostinho Fróes da Motta de edificar prédios que traduzissem imponência ao centro da cidade, trazendo a ideia de progresso, de modo que expressassem beleza, higiene, salubridade, além de segmentar o centro da cidade como uma área que habitava a classe de maior poder econômico.
A Fundação Senhor dos Passos angariou fundos junto a órgãos públicos e privados para comprar no intuito de restaurá-la e garantir que esse patrimônio esteja vivo na cidade como um memorial, para que as pessoas possam frequentar e conhecer.
Em relato pessoal, a arquiteta fala que “O Casarão Fróes da Motta existe para que a minha geração possa ter a oportunidade de visualizar, de forma concreta, o traçado das residências imponentes e ecléticas que existiam no centro da cidade.”
“ O Casarão Fróes da Motta fala por si só e conta sobre a sua época de construção e a percepção de 'cidade' que Agostinho Fróes da Motta adotou durante a sua intendência: trazer a imponência do edifício para contrastar com a paisagem urbana e convidar os pedestres a vislumbrarem essa "viagem" passageira para a Alemanha, tendo sido a sua inspiração para o palacete quando viajou para lá. Ou seja, o Casarão Fróes da Motta também significa resistência”, finaliza ela.
Edifício CUCA
Edifício construído em 1916, na rua Conselheiro Franco, em estilo arquitetônico eclético, foi inaugurado como escola fundamental e posteriormente, em 1927, o prédio passou a sediar a Escola Normal de Feira de Santana, se tornando muito importante na história educacional da cidade. Em 1943, o edifício serviu de quartel para o 18º Batalhão de Infantaria da 6ª Região Militar, durante a 2ª Guerra Mundial.
O Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) promove um impacto social e cultural muito grande para a cidade, devido à história de formação de alunos e professores, que em 1995 recebeu o acervo de artes visuais do Museu Regional.
Hoje ele integra a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e tem grandes contribuições culturais e institucionais para a cidade. Lá são realizadas oficinas todos os semestres, nas áreas de Música, Artes Visuais, Teatro e Dança e Atividades Corporais. O edifício é como um “refúgio” ou “refresco” para a área comercial e movimentada de Feira de Santana.
Por fim, Manuela compartilha com o iBahia a sua experiência individual que teve desde nova com o CUCA. “O meu trabalho de conclusão de curso (TCC) teve como projeto de referência e inspiração o CUCA, pautado no dimensionamento da sua arquitetura […]”.
“Um local que eu tenho muito carinho, é um espaço transformador de muitas realidades. A minha primeira oficina de artes foi lá, eu tinha 11 anos e posso dizer que foi muito importante para a minha formação profissional e pessoal. Também fiz oficinas de teatro, onde eu desenvolvi a minha autoconfiança”, compartilha ela.
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